A pandemia da Covid-19 vem impactando a
sociedade diariamente. Uma das dificuldades impostas é a diminuição do
acesso à educação de crianças e adolescentes, onde tornou-se o quadro
mais crítico. De acordo com dados de um levantamento de 2020 feito pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em setembro do
ano passado 6,4 milhões de estudantes (13,9% do total) não tiveram
acesso às atividades escolares. Ainda nessa mesma pesquisa, a PNAD,
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, também do IBGE,
mostra que estudantes negros e indígenas sem atividade escolar
representam o triplo de estudantes sem escola: 4,3 milhões de crianças e
adolescentes negros e indígenas da rede pública e 1,5 milhão de pessoas
brancas destes segmentos.
Com a necessidade de uma renda extra, a
população negra sofre com o ingresso forçado ao mercado de trabalho,
fazendo com que jovens abandonem o ambiente escolar para ajudar a
família a garantir uma renda básica para sobreviver. Silas Veloso,
Cientista Social e mestrando em Educação pela UFPE, enfatiza que é
importante a sociedade ter consciência de que situações como a evasão
escolar e exploração no mercado de trabalho são reflexos do racismo, que
é estrutural e sistêmico, no sentido de ser uma problemática que
reverbera em todos os espaços, inclusive no campo educacional. Atuando
no sistema público de ensino, Silas explica que as desvantagens
históricas sofridas pela população negra deixaram marcas que perduram
até hoje.
“O analfabetismo é um dos problemas,
bem como o problema da evasão escolar e a falta de participação dos
estudantes no que se constrói na escola. Esses problemas, no meu ponto
de vista, de quem também é professor de escola pública, estão
relacionados com os contextos que esses estudantes vivem. Quando falamos
de uma população negra na educação, estamos falando de um grupo que
também tem uma classe, em sua grande maioria, que é resultado desses
processos históricos que nos trouxeram até aqui, como a escravização no
Brasil. Não é dizermos que somos só isso, mas é importante olhar para
essa questão”, pontuou.
O abismo entre as oportunidades
educativas e a população negra cresce a passos largos nesse período
pandêmico. Contudo, educadores tentam reverter essa realidade com
atividades escolares de inclusão, promoção e valorização da cultura,
conhecimento e saberes dos povos negros. Desnaturalizar a exclusão
escolar de crianças e adolescentes negros do sistema de ensino é um dos
passos para o início de uma transformação da escola e da sua afirmação
como espaço de combate ao racismo.
Para valorizar o corpo e a cultura
negra, o cientista social promove atividades em sala de aula para que os
estudantes possam conhecer mais sobre negritude e desmistificar
temáticas tratadas de maneira preconceituosa por falta de conhecimento.
“Um dos caminhos de enfrentamento do racismo é politizar os debates e os
conteúdos que estão sendo trabalhados na escola e não esvaziar de
sentidos como geralmente é feito. Isso pode ser feito dentro da
filosofia, dentro da sociologia, da matemática…”
A especialista em gestão educacional e
tecnologias digitais aplicadas à educação, Gisele Braga, relatou que
costuma trabalhar com a autora Nilma Lima Gomes para explicar aos
estudantes questões de identidade, trazendo fatos históricos e
antropológicos para sala de aula. “O que era símbolo de identidade
passou a ser símbolo de vergonha. Esse é um dos principais motivos que
negros não gostam de ser identificados como tal. Trago autores negro
para emponderar os estudantes. E na escola, além de trabalhar com o
conhecimento, devemos trabalhar a esperança.”
Por:Diario de Pernambuco
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