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É o que mostra relatório da FGV DAPP (Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas) que analisa as conversas sobre segurança nas menções às eleições e aos presidenciáveis.
Também há um aumento da associação dos dois candidatos que lideram as
pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) ao
tema, especialmente a partir de junho, passando de cerca de 10% para
20%.
O estudo da FGV busca identificar, primeiro, o tamanho e o discurso
dos campos políticos sobre esse assunto no Twitter. Analisa a evolução
de menções a subtemas de segurança (como crimes eleitorais, violência e
políticas públicas) e, por fim, a associação dos presidenciáveis com
esse debate.
O Twitter permite esse tipo de monitoramento e é uma rede social
importante para o entendimento de estratégias de campanha e da
militância digital.
O item violência e criminalidade inclui assuntos como facções
criminosas, milícias, drogas, homicídios, assaltos, chacinas e
espancamentos. Um mesmo tuíte pode ter sido classificado em mais de um
tema.
Parte dessa alta no debate sobre criminalidade vem de episódios
recentes como os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do
jornalista Dom Phillips e a morte do guarda municipal e militante
petista Marcelo de Arruda pelo policial penal bolsonarista Jorge José da
Rocha Guaranho.
Outro fator importante para o crescimento, aponta o estudo, é uma
movimentação de grupos bolsonaristas para substituir críticas de
corrupção a Lula por associação do PT ao crime organizado, como o PCC.
De acordo com Marco Ruediger, diretor da área de políticas públicas
da FGV, além da pauta de violência e criminalidade, outro debate central
é a economia. “Se você olhar historicamente são os dois grandes debates
que vão se revezando em primeiro e segundo lugar”, diz.
“O que ocorre é que a direita tem investido muito nisso, porque ela
perdeu a bandeira da questão da corrupção. Não consegue mais impor isso
como uma temática, visto que também houve uma série de derrapadas do
governo atual.”
Em janeiro, o percentual das menções ao tema associadas a Lula era de
8,1%. Em junho, o petista ultrapassa Bolsonaro e passa a representar
17% das associações e, neste último mês, 21,4%.
Até maio, Bolsonaro tinha maior nível de associação. O presidente
passou de 12% em janeiro para 14,9% em junho e, em julho, chegou a
20,1%.
Um dos assuntos de maior destaque é o que relaciona o PT ao PCC e ao
assassinato de Celso Daniel em 2002, quando ele era prefeito de Santo
André (SP). O assunto foi reciclado a partir de uma delação de Marcos
Valério, divulgada no início do mês pela revista Veja.
O tema também ganhou tração após decisão do ministro Alexandre de
Moraes, que comandará o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na eleição,
determinando a remoção do que considerou serem notícias falsas sobre o
assunto, que chegaram a ser veiculadas por parlamentares da base de
Bolsonaro.
Falas recentes do próprio Lula também foram usadas como munição para
ligar a imagem do petista a um cenário de insegurança, como quando ele
relembrou sua atuação para a extradição dos sequestradores do empresário
Abilio Diniz, ocorrida há mais de 23 anos, em discurso.
A partir de junho, ele passa a ser associado aos assassinatos em Manaus e Foz do Iguaçu.
Ruediger avalia que a violência é usada como ferramenta para
desgastar o oponente, sem que haja um teor propositivo –no período
analisado, há apenas 378 mil menções a políticas públicas de segurança.
Para ele, a estratégia da direita é inteligente porque tentar afastar
debates prejudiciais ao atual governo, como a economia, e busca
mobilizar o medo por meio de um discurso emocional relacionado à
criminalidade. Ele considera um erro da esquerda explorar o assunto em
vez de focar a economia.
“A direita não quer discutir a economia e eu acho que a esquerda
comete um engano quando ela compra essa discussão [da violência] de
forma muito direta.”
Na análise da FGV relativa ao Facebook, entre os principais links
sobre violência e criminalidade associados a presidenciáveis destaca-se a
presença do Jornal Cidade Online, veículo alternativo de direita que
está no inquérito das fake news.
O site ocupa as primeiras posições em volume de engajamento no
primeiro semestre, o que para os pesquisadores demonstra “capacidade do
campo da direita em construir narrativas sobre o tema em momentos de
menor discussão”.
No Facebook, foram identificadas as mesmas transições de narrativas. (BN)
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