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Janeiro Branco: especialista e paciente falam sobre estigmas do tratamento das doenças mentais

A campanha do Janeiro Branco busca promover atividades e ações educativas para difundir, em meio à sociedade, a importância da preservação da saúde mental. O mês foi adicionado ao calendário oficial de Alagoas no ano de 2018, através de uma lei publicada no Diário Oficial do Estado.

Uma pesquisa, realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em meados do ano passado, revelou que 80% da população brasileira se tornou mais ansiosa na pandemia. A importância do cuidado com a saúde mental se mostrou ainda mais necessária durante a pandemia, principalmente devido a doenças como ansiedade e depressão.

Mudança de hábitos

Em entrevista ao CadaMinuto, a psicóloga e terapeuta Alynne Acioli Santos falou que a campanha não acontece em janeiro por acaso. Segundo ela, culturalmente, o ser humano relaciona a virada de ano à mudança, e assume o primeiro mês que se inicia como o novo, a possibilidade de viver novas chances e novos hábitos.

“As expectativas para o novo ano fazem com que as pessoas olhem para o autocuidado de maneira mais atenciosa. Sabemos que o processo da psicoterapia ainda é um tabu na nossa sociedade e, por isso, nem sempre nos cuidamos adequadamente. Mas é preciso prestar mais atenção à nossa qualidade de vida, física e emocional”, afirmou.

Ao mesmo tempo, são corriqueiras as queixas de pessoas que iniciaram o ano dispostas a mudar velhos hábitos e, depois, se viram angustiadas repetindo-os. A psicóloga fala que superar um vício não é fácil e exige esforço, persistência e perseverança.

“Quando um hábito está trazendo tantos prejuízos e limitações emocionais, e à vida funcional, muitas vezes só buscamos mudar quando tudo se acentua. Um dos aspectos primordiais para que uma pessoa atinja essa mudança é, primeiro, refletir sobre o quanto está sendo prejudicado. Depois, ter um acompanhamento com um profissional da saúde mental”, aconselhou.

Alynne fala, ainda, que não há dúvidas que a pandemia serviu como gatilho ativador de transtornos mentais. Mas que agora, a possibilidade de vacinação traz uma sensação de esperança – um dos sentimentos mais comprometidos no difícil ano de 2020.

“A chegada da vacina traz essa perspectiva de recomeço, de olhar novamente para a vida que nós conhecíamos antes da pandemia. Mas é importante seguir atento para recuperar, com suporte psicológico e segurança, o emocional saudável”, concluiu.

Ressignificação constante

Para o estudante Lucas Sampaio, de 20 anos, a data possui um significado muito grande em sua vida. Ele conta que, desde o seu diagnóstico como autista, em 2006, sempre buscou um meio para se adaptar às dificuldades e superar os obstáculos que apareceram em sua vida.

“Em meio aos desafios impostos pela vida em sociedade, não é fácil para mim lidar com certas reações das pessoas em relação à minha forma de agir e meu jeito muito formal de falar, por exemplo”, disse. 

O estudante lamenta o estigma que o tratamento das doenças mentais ainda possui na sociedade. “Muitas pessoas, ao meu ver, acreditam que aqueles que passam por dificuldades no equilíbrio emocional são os ‘loucos’ que precisam ‘se tratar’”. Esse termo “se tratar” nem sempre soa de maneira pejorativa, mas na grande maioria das vezes é emitido de forma distorcida e preconceituosa, disse.

Lucas exemplifica, dizendo que faz sessões psicoterapia desde os três anos de idade, porque sabe que tudo isso faz parte de um processo de ressignificação constante em sua vida.

Ele afirma que o princípio do Janeiro Branco deveria ser levado pelo resto do ano, e não apenas celebrado no primeiro mês. “O melhor caminho para levar a campanha para o restante do ano seria a conscientização da população de que não existe nem data e nem hora para buscar apoio psicológico”.

O estudante reforça a necessidade de praticar a empatia com o próximo, já que “todos podem ajudar e precisam de ajuda”.

“Minha frase de reflexão é a seguinte: ‘Seja mais você a cada dia vivido, busque sempre se valorizar, se amar e se respeitar, porque se não seguirmos a todos esses pré-requisitos, será muito mais complicado nos disponibilizarmos a dar aos outros algo em troca’”.

*Estagiários sob supervisão da editoria

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