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CARNEIRO: O JOGADOR MULTIFUNCIONAL

O velho e sábio Antônio Valmir Laranjeira vulgo CARNEIRO era conhecido na região por sua dedicação ao esporte de nosso município. Suas palavras encontradas na expectativa, no sabor de algumas vitórias e no calor do jogo eram o bálsamo e algumas vezes funcionaram para motivar o jogador que ia ser substituído. Ele era direto e usava as “manhas” adquiridas no tempo em que, segundo alguns, era um lateral e tanto com sua virilidade. 

O danado trabalhava a semana toda ora na sua “propriedade”, ora fazendo algum bico para alimentar sua família. Nos finais de semana se encarregava para marcar os amistosos ou correr atrás de jogadores para xerocar algum documento pendente nos diversos campeonatos pelas redondezas. Devo confessar que além de trabalhador o cara era JOGADOR, DIRIGENTE, TÉCNICO, MASSAGISTA e muitas vezes atuou como TESOUREIRO do selecionado recebendo as contribuições para pagar o transporte. Dito e feito a prestação de contas era visualizada com suas escritas e cálculos matemáticos certamente aprendidos durante o tempo que visitou a escola. Aliás, confesso que foi meu aluno quando iniciei a carreira de professor. 

Das idas e vindas no intervalo de uma década ou mais, o CARNEIRO viveu excelentes momentos durante as diversas partidas que realizávamos por aqui. Por outro lado, nas nossas muitas conversas percebia sua tristeza com alguns colegas do futebol, já que sua contribuição era tida como certa em qualquer circunstância. Ele podia ser metido a intelectual do futebol, mas a contribuição era mais que certa, era certíssima!

Dentro do ônibus ou vam o cara se tornava um filósofo nordestino com um sotaque ímpar e um conhecimento adquirido ao longo de sua carreira futebolística. De São Paulo a Goiás o danado tinha Estórias e Histórias que nos motivava nas ditas partidas.  Seu parceiro de muitos anos OPALA era seu alvo predileto nas críticas. Ele tentava motiva-lo para encontrar a solução e tornar OPALA talvez um jogador com melhor desempenho

Numa partida amistosa há alguns anos em Miguel Calmon o danado do CARNEIRO preparou tudo juntamente com os dirigentes da SELEÇÃO DE MASTER (que acabou sem explicações). A saída estava prevista para as sete horas da manhã num domingo. CARNEIRO acordou cedo e como de costume batia na porta para nos acordar: “E aí jovem preparado? Horário de saída vencendo e lá estava o velho e bom CARNEIRO preocupado com um ou outro atrasado. OPALA como sempre chegou atrasado e seguimos a viagem por entre as serras do tombador cantarolando e tocando um bandeiro ou timbau. Não deu outra e no percurso tivemos que parar e socorrer o atleta OPALA que se encontrava amarelo e, segundo os comentários, ou era fome ou ressaca! Resultado: OPALA foi salvo pelas bananas de Lilica. Já o sábio CARNEIRO como de costume deu-lhe umas “regulagens”...

Em Jacobina também disputamos um campeonato recentemente e lá estava CARNEIRO para nos prestigiar com sua dedicação e multifuncionalidade. Dessa vez não conseguimos chegar na final por diversos fatores extra campo mas as viagens e suas cantigas nos alegrava. Sua calça de tactel branca com verde, sua bolsa portando chuteiras que algum amigo ou admirador lhe presenteou de Goiás estava à tiracolo.

Em junho disputamos uma partida que acontece há alguns anos seguidos entre os amigos de Bengo e a seleção do Morro do Chapéu. Depois de arrumar o uniforme, o gelo e todo o material necessário o sábio Carneiro juntamente com o outro amigo fiel IVANILTON providenciaram a viagem. Como sempre o atrasado de um ou outro jogador era motivo para rirmos das sábias e diretas palavras do CARNEIRO. Finalmente conseguimos seguir viagem por entre os buracos da rodovia. Alguns cantarolavam, outros falavam sobre o campeonato brasileiro. Já atrasados e chegando ao ARAGUAIA a palestra aconteceu dentro da Vam. CARNEIRO levantou-se e pediu a palavra. Um olhava para o outro e ria silenciosamente com a paciência e sapiência de suas palavras. A partida era tida como revanche e as informações eram secretas por contas de um novo atacante descoberto nessas idas e vindas de amistosos: CANIGGIA. Depois da palestra podíamos ter certeza de que antes do jogo começar teria mais outra, pois o velho CARNEIRO não pensava noutra coisa a não ser a vitória! A partida terminou 1 x 1 e depois de muita confusão depois de defendermos OPALA de uma agressão e, ainda, porque o juiz expulsou um atleta da gente e  deu 5 minutos perdemos o churrasco preparado pelos anfitriões. 

Mais uma vez o empate não foi motivo para nos entristecer. Afinal sabíamos que esses amistosos eram o motivo para nos reencontrar e nos alegrar com essa magia chamada FUTEBOL! Era mais um motivo para tirar uma foto e guardar para nos recordar de tantas viagens juntos. Ah! Aquela que você me pediu está guardada aqui! 

Por último, devo confessar que no domingo pela manhã perdemos CARNEIRO: O JOGADOR MULTIFUNCIONAL. Justamente no domingo de manhã em que por várias vezes levantou-se de sua cama quente para nos acordar e prestigiar com suas HISTÓRIAS, TÁTICAS e COMPANHIA! 

O silêncio, a pernoite e as lágrimas de alguns de seus amigos e colegas do FUTEBOL se fizeram presente – como você costumava falar - na sua casa.  A camisa do Vasco era o sinal de respeito e amizade que sempre tivemos por você e em alguns momentos não conseguimos nos EXPRESSAR dizendo: VOCÊ MEU AMIGO DE FÉ MEU IRMÃO CAMARADA, AMIGO DE TANTOS CAMINHOS DE TANTAS JORNADAS. CABEÇA DE HOMEM, MAS O CORAÇÃO DE MENINO...

                                                                                       Por Florisvaldo Batista dos Santos

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