Mulher denuncia professor por estupro de vulnerável em colégio particular na BA: 'Roubou inocência da minha filha'
Delegacia
Especial de Repressão aos Crimes Contra Criança e o Adolescente
(Dercca) de Salvador — Foto: Haeckel Dias/Polícia Civil
Uma
mulher denunciou um professor da Escola Adventista de Paripe, em
Salvador, por estupro de vulnerável. Segundo ela, a filha foi abusada
quando tinha 10 anos, assim que chegou na instituição de ensino, no ano
de 2016. "Roubou a inocência da minha filha", disse em entrevista ao G1.
De acordo com a escola, o suspeito nega todas as acusações.
O
Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) requisitou no dia 16 de
fevereiro a instauração de um inquérito policial à Delegacia
Especializada de Repressão aos Crimes Contra à Criança e o Adolescente
(Dercca). O inquérito foi encaminhado ao MP-BA e será distribuído a um
promotor de Justiça criminal para a devida avaliação das conclusões e
apurações policiais.
O
MP-BA também informou que apura, na esfera não criminal, a violação de
direito à educação, em razão de suposto abuso sexual físico e psíquico,
por meio de procedimento instaurado no dia 14 abril, prorrogado no dia
13 de maio, e solicitou mais informações à denunciante e à unidade
escolar.
Em
nota enviada ao G1, a Escola Adventista de Paripe informou que apura os
fatos relativos à denúncia de assédio envolvendo um funcionário. A
instituição disse que afastou o professor suspeito após comunicação
detalhada da parte da mãe da vítima e, posteriormente, realizou a
demissão dele. A escola não informou quando ocorreu a demissão do
suspeito.
A
instituição também informou que colabora com as autoridades policiais. O
colégio ainda disse que é contra qualquer tipo de abuso e que se
posiciona veementemente contra agressões dessa natureza.
Ainda
segundo a instituição, a Escola Adventista prestou solidariedade à
família e se colocou à disposição para oferecer todo o apoio necessário.
De
acordo com a Polícia Civil, o caso foi apurado pela Delegacia
Especializada de Repressão aos Crimes Contra à Criança e o Adolescente
(Dercca), que concluiu o inquérito e remeteu ao MP-BA, no dia 11 de
maio. O suspeito foi indiciado por estupro de vulnerável.
O G1 tentou contato com o professor por telefone, mas as ligações não foram atendidas até a última atualização desta reportagem.
Mãe percebeu comportamento diferente
De
acordo com a mãe da vítima, a filha começou a apresentar um
comportamento diferente em casa e as notas começaram a cair no colégio.
"Quando
ela baixou as notas, eu procurei ele para entender o que estava
acontecendo, porque ela sempre foi uma aluna com notas muito boas. Ele
falou para mim que as notas tinham baixado porque ela conversava demais
na sala de aula", disse.
A
mulher também chegou a procurar a direção da escola. No entanto,
segundo ela, a direção dizia que era questão de adaptação, porque a
menina vinha de um colégio pequeno e que era uma questão de transição.
"A direção dizia que esse comportamento era natural por causa da mudança", comentou.
Ainda
de acordo com a mulher, o comportamento diferente da filha evoluiu
durante dois anos e a menina chegou a se mutilar. "Ela não queria mais
ter contato com as pessoas", explicou.
Abusos aconteciam nos corredores
Ao
G1, a mãe da vítima relatou que os abusos começaram no início de 2016 e
duraram por cerca de dois anos, até o final de 2018, quando a menina
mudou de colégio.
"Ela
teve que sair da escola, porque eu mudei de bairro. Até então eu não
sabia o que estava acontecendo com minha filha, mas como troquei de
endereço, tive que tirar ela da escola e colocar em uma nova por conta
da mudança", falou.
A
mulher também disse que só teve conhecimento dos abusos que a menina
sofria quatro anos após o ocorrido, em dezembro de 2020, quando a filha
relatou para ela.
"Eu
fiquei sabendo depois de muitas idas e vindas ao médico. Ela apresentou
quadros que aparentemente eram físicos, pois passava mal, eu levava
para o hospital, emergência, voltava e tudo mais, até que um dia ela
passou mal, eu levei ela na emergência e pedi para que a médica a
encaminhasse para uma avaliação neurológica", explicou.
Segundo
a mãe, ela achava que a filha poderia ter algum problema neurológico,
porém, após avaliação foi constatado que estava tudo normal.
Posteriormente, em outra avaliação médica, a mulher descobriu que a
menina estava com síndrome do pânico.
"Durante
essa crise muito forte, que foi uma das crises mais fortes que ela
teve, foi que eu sentei com ela em casa e eu perguntei para ela: 'cadê
aquela filhinha linda, aquela filhinha que pegava florzinha para dar
para a mamãe?', aí foi quando ela falou para mim que aquela criança
tinha morrido. Foi quando ela começou a me relatar", disse a mãe.
"Os
abusos ocorriam nos corredores, no momento que não tinham monitores,
justamente em pontos que ficavam de difícil visibilidade, até porque na
época tinham câmeras [de segurança], mas elas não funcionavam. [Também
aconteceram] algumas vezes na sala de aula de uma forma velada,
disfarçada", relatou.
Após
o relato da filha, a mulher relatou que ficou com a sensação de
imponência e decidiu registrar um boletim de ocorrência em uma delegacia
de Salvador.
"No
primeiro momento [o que senti foi], a dor de que alguém roubou algo que
minha filha nunca mais vai ter, que é a inocência dela", lamentou.
Ainda
de acordo com a mulher, a menina chegou a desenvolver depressão por
causa dos abusos. Atualmente, a menina tem 15 anos e segue em
acompanhamento psicológico.
'Professor tinha comportamento inadequado'
Ainda
durante a entrevista, a mulher relatou que o professor apresentava um
comportamento inadequado com as alunas. Ela disse que soube da
informação através de testemunhas.
"Ele
já vinha mostrando durante muito tempo, o comportamento diferente na
sala de aula só com relação às meninas e, por conta disso, ele utilizava
da persuasão, por ser um professor de uma matéria muito necessária",
relatou.
"Inclusive
houve relato de um aluno que foi fazer queixa com relação ao
comportamento e ao assédio que esse professor fazia na sala de aula com
relação às meninas", disse a mãe.
A mulher ainda detalhou que, segundo uma testemunha, a direção do colégio teria sido informada sobre a conduta do profissional.
"Chegou
ao meu conhecimento que uma testemunha teve conhecimento, justamente
desse professor, de um comportamento totalmente inadequado e participou à
direção do tratamento dele com relação às colegas em sala de aula, mas a
direção não tomou nenhuma providência", comentou.
O que diz a escola
De
acordo com a instituição, essa foi a primeira vez em que a escola soube
de um caso relacionado a esse professor. A escola ainda informou que o
contato que ainda mantém com o professor é para as tratativas sobre
demissão.
Após
a denúncia realizada pela mãe da vítima, a Escola Adventista disse que
vai reestruturar a central de relacionamento já existente, para melhorar
o diálogo com pais e alunos, inclusive com aqueles que já fizeram parte
da unidade escolar, e não estão mais na instituição, como é o caso
desta denúncia especificamente. A ideia é ampliar possibilidades de
escuta e de assistência aos pais em situações semelhantes.
Além
disso, como parte do Plano de Ensino, já ocorre o trabalho com temas
que combatem toda e qualquer forma de abuso, segundo a instituição. Isso
envolve o cuidado na adoção do material didático, que reforça a
conscientização aos alunos, como, também, a realização de oficinas,
palestras, escolas de pais e formações docentes que abordem esses temas
importantes para a formação integral do indivíduo.
Já
em relação a relatos de outras testemunhas, sobre a suposta existência
de outras alunas vítimas do mesmo professor, a Escola Adventista
informou que vê com grande preocupação, e se coloca à disposição, além
de incentivar os pais a apresentarem denúncias para ajudar na apuração e
no enfrentamento ao problema.
Fonte: G1 Bahia
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