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Esquerda vê renúncia de Zambelli como tentativa oportunista de não perder direitos políticos

 

A renúncia da deputada Carla Zambelli (PL-SP), anunciada no último domingo (14), foi amplamente interpretada por figuras da esquerda brasileira como uma manobra oportunista. A medida visaria evitar a perda de seus direitos políticos, mesmo após condenações e sua prisão na Itália.

A decisão veio à tona em um contexto de pressão, com o Supremo Tribunal Federal (STF) já tendo determinado a cassação de seu mandato, um ato que a Câmara dos Deputados havia resistido em acatar.

Deputados e ministros do governo Lula (PT) presentes em um ato da esquerda na Avenida Paulista, em São Paulo, reiteraram essa percepção. O deputado federal Jilmar Tatto (PT) afirmou que Zambelli “ia ser cassada de todo modo”, sugerindo que a renúncia seria uma estratégia para tentar não ficar inelegível.

Ele classificou a ação como uma “renúncia oportunista, o que é bem do estilo dela”.

Outros parlamentares compartilharam a mesma visão crítica. A deputada Sâmia Bomfim (PSOL) considerou a renúncia como um “jogar a toalha”, destacando que Zambelli já estava condenada, inelegível e presa. Para ela, a renúncia poderia ser uma tentativa jurídica de contestar a inelegibilidade. O ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) corroborou, vendo a atitude como uma tentativa de evitar a perda de direitos políticos, embora defendesse que ela deveria perder e ser presa.

Negociação e Pressão Institucional

A renúncia de Zambelli não foi um ato isolado, mas fruto de uma complexa negociação. Conforme revelado, houve conversas entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), aliados da deputada, sua família e advogados.

Essa articulação visava evitar que a Câmara se aprofundasse em uma crise institucional com o STF, além de poupar Motta de um desgaste político, equilibrando pressões de governistas, do Supremo e do PL, partido de Zambelli e a maior bancada da Casa. A deputada Érika Hilton (PSOL) ironizou a situação, sugerindo que Zambelli demonstrou mais “dignidade” que o próprio presidente da Câmara.

O cenário legal de Carla Zambelli é complexo. Em maio deste ano, ela foi condenada à perda de mandato e a dez anos de prisão por invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o auxílio do hacker Walter Delgatti Neto.

Com cidadania italiana, Zambelli fugiu do Brasil temendo a prisão. Em agosto, uma nova condenação de cinco anos e três meses de prisão foi imposta por ter sacado e apontado uma arma para um homem na véspera do segundo turno das eleições de 2022.

Atualmente presa na Itália, o ministro Guilherme Boulos (Secretaria-Geral da Presidência) cobrou sua extradição para que cumpra a pena no Brasil. O STF já determinou que ela cumpra a pena em território nacional, e o pedido de extradição será analisado pela Justiça italiana na próxima quinta-feira (18).

Caso seja extraditada, Zambelli deverá ser levada para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal, conhecida como Colmeia, onde aguardará o desdobramento de seus processos.

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