Surge no horizonte mais uma vacina
para ajudar na luta contra a Covid-19. Batizada de VLA2001, ela foi
produzida pela farmacêutica franco-austríaca Valneva e se mostrou
altamente eficaz em testes clínicos de terceira fase, realizados em todo
o Reino Unido. Os dados foram divulgados, ontem, em um comunicado
emitido pelos desenvolvedores do medicamento. O novo imunizante, que se
mostrou mais eficaz que o fármaco protetivo da AstraZeneca, utiliza todo
o genoma do vírus Sars-CoV-2 em sua fórmula, o que gera uma maior
resistência a possíveis mutações do patógeno, uma vantagem que pode
fazer a diferença no combate à pandemia.
O estudo, que foi chamado de
“Cov-Compare”, contou com 4.012 participantes com 30 anos ou mais,
espalhados em 26 regiões da Inglaterra. Em parte dos voluntários (1.040
pessoas) foram aplicadas duas doses da VLA2001, com 28 dias de
intervalo. O resto do grupo recebeu de forma randomizada (aleatória) o
primeiro imunizante ou o fármaco da AstraZeneca, também em duas doses,
mas com diferença de três meses. De acordo com os especialistas, o uso
de placebo para análise foi descartado pois não seria ético colocar os
analisados em risco.
Como resultado, os pesquisadores
observaram que indivíduos que receberam a VLA2001 demonstraram níveis de
anticorpos neutralizantes cerca de 40% mais altos do que os
participantes imunizados com o fármaco criado pela Universidade de
Oxford. Os cientistas explicaram que essa diferença se deve à forma como
cada medicamento é projetado.
A vacina da Valneva é feita com todo o
genoma do vírus Sars-CoV-2 silenciado, ou seja, sem capacidade de
infectar, enquanto o imunizante da Astrazeneca, explora apenas a
proteína spike do patógeno, usada por ele para entrar nas células
humanas. “A VLA2001 é capaz de responder à proteína spike e também a
outras duas outras proteínas-chave desse agente infeccioso. Com isso
temos uma ação imune mais eficiente. Outra vantagem é que essa proteção
não é anulada diante de novas cepas, que mesmo com alterações de DNA
ainda serão reconhecidas”, ressaltaram, no comunicado, os responsáveis
pelo estudo.
Vantagens
Os pesquisadores também observaram que
os voluntários imunizados com a vacina da Valneva apresentaram menos
efeitos colaterais, independente da idade. “Os participantes da faixa
etária mais jovem vacinados com VLA2001 mostraram um perfil de segurança
geral comparável aos mais velhos”, detalharam os cientistas.
Outra vantagem do imunizante da
Valneva é que ele pode ser armazenado em geladeira normais. A tecnologia
usada para sua produção já é bastante explorada mundialmente, o que
pode fazer a diferença, principalmente, para países menos desenvolvidos.
“Essa é uma abordagem muito mais
tradicional para a fabricação de vacinas do que as tecnologias usadas
pelos imunizantes utilizados até agora no Reino Unido, Europa e América
do Norte. Nossos resultados sugerem que VLA2001 pode, futuramente,
desempenhar um papel importante na superação da pandemia”, declarou, no
informe, Adam Finn, professor de Pediatria da Universidade de Bristol,
no Reino Unido, e principal autor do estudo.
Renato Kfouri, diretor da Sociedade
Brasileira de Imunizações (SBIm), destacou que o fármaco da Valneva
apresentou dados animadores, mas ressaltou que apenas uma análise mais
longa pode confirmar se manterá uma resposta imune alta nos vacinados.
“O problema das imunizantes que usam todo o vírus silenciado, como a
Coronavac, por exemplo, é que existe um risco dessa proteção não durar
por muito tempo, o que exigirá a aplicação de uma terceira dose em
poucos meses, principalmente em pessoas com sistema imune mais fraco,
como idosos. Por isso, não temos como nos empolgar muito com esses
resultados, precisamos ser prudentes”, observou.
Apesar dessas possíveis limitações, o
especialista enfatizou que o desenvolvimento de novas vacinas para a
Covid-19 pode contribuir bastante para o combate à pandemia. “Essa
vantagem de desenvolver um imunizante mais barato é algo que pode fazer a
diferença, já que até imunizantes contra o coronavírus que deveriam ser
mais acessíveis, pois usam poucos recursos tecnológicos, ainda
apresentam um valor alto atualmente”, acrescentou.
Diretor-geral da Valneva, Thomas
Lingelbach declarou à agência de notícias France-Presse (AFP) que a
empresa deseja registrar a vacina “o mais rápido possível” para propor
uma solução alternativa às pessoas que ainda não foram vacinadas. O
grupo farmacêutico também adiantou que pretende apresentar os dados
alcançados no estudo à agência reguladora britânica de saúde (MHRA) e à
Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
O anúncio da Valneva também
desencadeou uma alta das ações da empresa na bolsa de Paris, que
avançaram 32,92%, a 16,01 euros (US$ 18), pouco depois da abertura do
dia. A reação ajudou o grupo a recuperar as perdas geradas no mês
passado, quando o governo britânico rescindiu um contrato para o
fornecimento de 100 milhões de doses da VLA2001 para o Reino Unido entre
2021 e 2022. O governo de Boris Johnson alegou que a Valneva não
cumpriu com suas obrigações, o que o laboratório negou.
Por:Diario de Pernambuco
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